Apresentação
O garoto aporrinhado - pela consciência de suas potencialidades e pela inconformação com a mediocridade. O gari desajeitado – por falta de atributos físicos. O recolhedor de coisas das ruas – pela sensível observação de circunstâncias e circunstantes. Todos a mesma pessoa. Alguém que vive e não simplesmente existe. Um protagonista. É como personagem que Odir Ramos da Costa aparece em seu mais recente trabalho literário, o livro “ Buquê para Faceira”.
Despojando-se do simples recurso à imaginação, o autor aplica o seu gosto pela narrativa às memórias. Nesse mergulho fisga as mais curiosas, íntimas, distantes, divertidas, dolorosas passagens. Desembrulha as suas lembranças, envolvidas em papel de seda, com peculiar elegância e fluência. Fala com o coração de garoto, não o trai, retoma o compasso de épocas outras, marcadas.
Transparece na linguagem direta o homem jovial, que avança no tempo, seja no momento presente ou em direção ao passado, confiante (sem resignação) no curso da vida. Repassa episódios como um contador de histórias e não como um cronista de costumes. Focaliza as relações humana, atemporais em seus dramas e lições. E se, vez por outra, situa relatos no tempo e no espaço o faz para demonstrar a sua ligação forte e tranqüila com as suas raízes.
Uma a uma, as histórias curtas evidenciam a bagagem adquirida nas viagens de trem; na lida com muares e outros bichos que cruzaram seu caminho; com os colegas de profissão; com as presenças femininas; com os rostos e as atitudes; com as lições das ruas; com o aspecto e o cheiro do lixo; daqui e dali.
As vidas que povoam as 143 páginas do livro equilibram-se no arame fino da subsistência, material e espiritual, todas a fazer malabarismos. Ou como sintetizado nas palavras de Yarema Ostrog, o artista plástico, ex-piloto da Segunda Guerra, personagem do conto “ A empreitada”: A vida bem vivida exige cambalhotas, meu amigo. Não se deve evitá-las. Ao contrário ... cambalhotas nas horas certas podem nos manter vivos.
Ao falar de suas próprias piruetas, oscilando entre a ousadia e a rebeldia, o escritor deixa escapar uma certeza que o conduziu, vitoriosamente, da mocidade aos dias de hoje. Tal como está destacado no conto “Quantas graças...”: (...) Gosto da imagem que transmito. Me inauguro como um garoto aporrinhado.”
Mas isso não o impediu, no auge de sua juventude, de olhar com compaixão um colega mais velho : Todo ele inspira cópia substituta de outro, imagem sobreposta nele mesmo. Uma sombra muito gasta, muito cansada, apenas uma sombra. Ao descrever assim o companheiro alquebrado pelo trabalho pesado nas ruas, o autor deixa para o leitor uma brecha, uma possibilidade de pista às avessas sobre si mesmo.
Porque hoje o garoto que se fez escritor é cópia substituta de outro, imagem sobreposta nele mesmo. Uma luz muito viva, muito acesa, particularmente luminosa.
Teresa Pimenta - jornalista |
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