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De repente, era verão de novo e sentia-se isso no ar das pessoas que habitavam a parte mais bonita da cidade. Como acontecia todos os anos, a chegada da nova estação no Rio de Janeiro não era determinada pelo calendário. Num dia qualquer, situado entre os três últimos meses do ano, o verão começava. Muitos só percebiam a mudança no dia seguinte, quando as meninas surgiam com os primeiros toques de cor-de-saúde, marcando ainda timidamente as bochechas, o nariz e algumas partes das canelas e dos joelhos. Era o tempo também em que os pés bonitos saíam dos tênis, se livravam das meias coloridas para assumir a liberdade em sandálias cada vez mais sucintas. Outras pessoas só viriam a perceber a mudança ao folhear as revistas da semana, com suas páginas coloridas repletas de corpos seminus, ilustrando o título de sempre: "E as praias voltaram".
Era verão no coração dos que alimentavam a esperança de viver um novo e grande amor, não importando com quem. O sol forte desnudava e embelezava os corpos, tornando as pessoas mais próximas, mais perto do animal que foram um dia.
Era verão também nas preocupações do chefe de família em colocar a mecânica do carro em dia, para enfrentar o longo trajeto dos fins-de-semana, rumo à casa da praia ou da montanha. A essa preocupação somava-se agora o preço da gasolina, deixando saudades de outros tempos mais suaves. Era verão para os vendedores de suco de limão das praias e para os donos de barraquinhas da orla marítima, vivendo a expectativa dos meses em que tiravam o pé da lama, se não chovesse, é claro.
Enfim, o verão chegara para uma boa parte dos habitantes da cidade, e mais ainda para os que tinham cacife para morar em frente ao mar, nos apartamentos da Vieira Souto, da Delfim Moreira, da velha Atlântica ou nas casas recém-construídas do pontal da Joatinga. Para o viajante aportado, bastava consultar uma das várias colunas de amenidades dos jornais para saber que o festival da nova estação já começara, com suas intermináveis maratonas festeiras, exigindo de seus figurantes um bom preparo físico e um fígado resistente. Pulava-se de um jantar preparado pelo chef Troisgros, regado a bordeaux de fina casta, para uma feijoada completa, no almoço seguinte, com as inevitáveis caipirinhas de vodka ou cachaça e whiskies escoceses.
Essas tinham sido as duas primeiras etapas do rallie daquele final de semana, que continuaria à noite com a festa oferecida pelo casal Maria Clara e Marcelo Andrade, em homenagem ao costureiro Ybarra, que passava pelo Rio de Janeiro, rumo à sua consagração definitiva em Nova York. Ele saltara no aeroporto internacional acompanhado por sua troupe de manequins, cinco mulheronas enormes, muito magras, bem ao estilo de Paris dos anos cinqüenta. Na Alfândega, enfrentou alguns problemas para desembaraçar seus vestidos, mas um telefonema importante resolvera tudo, comprometendo-se o costureiro a reembarcar, uma a uma, todas as peças de sua coleção, quando seguisse para os Estados Unidos, uma semana depois. E a Alfândega seria rigorosa nessa verificação, o que era uma pena. Nenhuma elegante carioca poderia adquirir um Ybarra naquela temporada.
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