CONVITE À REFLEXÃO
Autor: Romeu Cardoso
Gênero: Filosofia
Num. páginas: 68
Versão Digital: R$ 4,75
Versão Impressa: R$ 9,50
 
Apresentação  -  Sobre o Autor  -  Sinopse  -  Fórum

Leia Mais

A IMPRENSA


O professor de literatura brasileira José Miguel Wisnik, falando sobre ética, leciona:
"Toda imagem se apresenta como um recorte da realidade. Na verdade ela tira uma porção de realidade do seu contexto original e transfere esta imagem para um outro contexto, onde ela vai ganhar necessariamente uma nova significação. A imagem, mesmo que seja uma reprodução do real, é sempre de algum modo uma violenta interpretação do ponto de partida, porque a imagem é tirada do seu lugar de origem e montada em um outro lugar ou outro contexto.
Na situação literária, quando começamos a ler uma estória, nós já sabemos de saída que ela está nos propondo uma situação imaginária, uma situação ficcional e portanto que o contexto é dado pela própria estória, ou seja, a estória vai criar as regras para que nós leiamos os acontecimentos que se dão ali. Então nós podemos começar a ler uma estória, em que nós sabemos que podem acontecer coisas sobrenaturais, como pessoas voar, os objetos podem se transformar magicamente etc. Elas fazem sentido naquele contexto que a própria narrativa está criando.
No entanto, uma representação jornalística, uma reportagem expõe um outro problema porque ela não nos propõe que ela está criando uma situação imaginária, mas sim de que ela está reportando um fato real.
Quando lemos um jornal, estamos tomando contato com a realidade através de uma representação que ele nos oferece. No entanto, não tomamos consciência de que quando estamos lendo um jornal, que ele nos apresenta uma realidade tirada de um contexto original, ou de um contexto de realidade, através de uma representação dela, e o jornal cria um outro contexto. Então temos uma situação que está localizada no seu mundo de relações, no seu mundo de referência de onde ela faz um sentido e toda a reportagem, toda essa representação da realidade necessariamente recorta uma porção, uma parte, fragmentos dessa realidade e transfere para um outro contexto que agora vem a ser o universo do próprio jornal onde nós estamos tomando contato com aquele fato ali reportado"
Ao meu juízo, a opinião de um jornal deve vir no seu editorial, a opinião dos articulistas devem ser assinadas e refletir seu modo de pensar sobre determinada questão e as reportagens devem reportar fatos acontecidos. Neste último item é que está o problema brilhantemente exposto acima pelo professor Wisnik. Confesso não saber se o fato é possível. Mas se o jornalista não consegue reportar a notícia, transmitindo ao leitor o fato acontecido temos um sério problema ao ler os jornais.
Um outro problema de grandes proporções na leitura dos jornais, é a própria interpretação do leitor, ou equivocada interpretação do leitor. A coisa toma proporções devastadoras quando o mesmo toma uma reportagem mal feita, a opinião de um jornal ou de um articulista como verdade, sem o levar em conta a necessidade de uma reflexão sobre o que foi escrito.
Este é um dos maiores mananciais de insumos para a TEORIA DA PROPAGAÇÃO DO PENSAMENTO INFUNDADO. Digo um dos maiores mananciais porque estaria cometendo uma injustiça se não registrasse que estes insumos vem de toda a mídia, campanhas políticas e um enorme número de fontes.
Cito dois casos emblemáticos. O primeiro tem origem na promulgação da constituição de 1988, a qual garantiu estabilidade de emprego aos funcionários da administração direta, autarquias e fundações. Deste conjunto estão fora as empresas estatais. Inúmeras vezes tive a oportunidade de ver funcionários das estatais serem acusados de negligência, ineficiência etc, por terem estabilidade de emprego. Se nos reportarmos à última grande greve dos petroleiros no primeiro governo FCH, lembraremos que naquela ocasião foram demitidos quase trinta funcionários. Justiça seja feita, o único jornalista que me lembro, participando de um debate na televisão, dizer serem beneficiados pela estabilidade de emprego garantida pela constituição de 1988, foi o Sr. Hélio Souto. A velocidade com que se propagou o pensamento infundado de gozarem de estabilidade de emprego os funcionários das estatais, mostra a repetição de idéias sem o mínimo fundamento e preocupação com a investigação da informação. Neste caso, uma simples pesquisa na constituição do nosso país seria o suficiente para esclarecer o caso. Aliás, ao meu juízo, ler a nossa constituição é a obrigação de cada cidadão, além de exercer a sua cidadania.
O segundo, aconteceu em 1990, quando em um lusco-fusco dia de nossa nação, o duble de presidente Fernando Collor "confiscou" o dinheiro de todos os brasileiros. Em meio à aquela mistura de revolta com surpresa, a imprensa publicou que o presidente havia "confiscado" 115 bilhões de dólares dos brasileiros. Um verdadeiro absurdo visto que na verdade ele recolheu o correspondente a 115 bilhões de dólares em moeda nacional. Em um dos dias subseqüentes , ouvi um médico, (pessoa com cursos superior), da cidade do Rio de Janeiro, (a qual não é qualquer lugar do mundo), dizer que com esse dinheiro ele podia pagar a dívida externa brasileira o que seria muito bom para a nossa população. Ignorava o cidadão em sua parca sapiência de assunto elementar, que a dívida externa é paga em dolar.
Não sei qual a pior distorção, se a imprensa soltar ao vento uma aberração deste tipo ou um cidadão com curso superior sem o mínimo espírito crítico, vomitar um singular dejeto intelectual.
Se um pós-insano jornalista tem o poder de publicar uma pós-insana idéia deste quilate e um ser com curso superior morando na capital intelectual deste país, consegue manter uma gestação e parir uma desclassificada idéia deste tipo, o que esperar das pessoas com menor ou nenhum grau de cultura? Se eles não são economistas para compreender o mecanismo de pagamento da dívida externa, eu também não sou. E ambos não são nenhuma criança para propor que cada brasileiro doasse um cruzeiro ao governo do presidente Figueiredo para que pudéssemos pagar a nossa então famigerada dívida externa, já que nos dias de hoje, o charme é o ex-ministro Ciro Gomes dizer que quando deixou o ministério da fazenda, a dívida interna estava na casa dos 30 bilhões ou 50 bilhões de reais, (confesso que não sei ao certo), enquanto no mês de junho de 2000, a mesma está na casa dos 530 bilhões de reais, dados da própria imprensa que aqui critico.
O primeiro caso emblemático citado anteriormente, ilustra de maneira bem acabada a TEORIA DA PROPAGAÇÃO DO PENSAMENTO INFUNDADO.
Pode-se indagar no entanto se o pensamento correto, com fundamento não se propaga da mesma maneira. Pode ser que sim, mas este não tem o efeito maléfico e devastador que é característica do infundado, principalmente quando este prejudica a cidadania, a decisão de um eleitor decidir entre os candidatos A ou B, para determinado cargo eletivo. A escolha de um candidato para determinado cargo eletivo deve basear-se pelo menos em sua trajetória política, seu comportamento durante a campanha, a viabilidade de suas promessas já que prometer por prometer, eu posso prometer a realização de várias obras, a construção e recuperação de hospitais e escolas, melhoria de serviços públicos redução da criminalidade e mais o que minha imaginação permitir. Os exemplos acima, da cidadania e da eleição são apenas dois exemplos, entre tantos que poderíamos sair a caça.
O segundo caso emblemático ilustra a falta de um mínimo de conhecimento de deve ter um cidadão para não ser enganado e andar falando bobagens conforme sua vontade. Ilustra sobretudo a falta de um espírito crítico necessário ao exercício da cidadania e ao convívio social para transformar esta nação em uma nação desenvolvida. Uma nação desenvolvida precisa de educação, cidadãos com discernimento mínimo e bons políticos em cargos eletivos. Com certeza temos bons políticos e com certeza pessoas que no legislativo e executivo fariam um excelente trabalho. Quem já se deu o trabalho de passar um dia no Congresso Nacional acompanhando os trabalhos nas comissões, e em plenário, observou a existência de bons políticos e de como é cansativa a rotina do nosso legislativo. Os escândalos que se dão por lá, se deve ao fato do nosso legislativo ser o espelho da sociedade brasileira, a qual em maior ou menor escala tem como costume as mesmas práticas daquela casa. O nos conforta é que temos as condições de mudar este quadro.
 
Apresentação  -  Sobre o Autor  -  Sinopse  -  Fórum

Inicial | Livros | Sua Compras | Sua Conta | Os 10 Mais Vendidos | Quem Somos
Como Publicar | Notícias na Imprensa | Novidades | Revista Literária | Fale Conosco | Ajuda

Papel Virtual
Rua Marquês de São Vicente, 225
Prédio Gênesis sala 21-a Cep.22453-900
tels:(0xx)-(21)249-4361
(0xx)-(21)239-0170 ramais:2026 e 2057