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Da calçada do botequim, alguém grita para o feitor:
- O aleluia quebrou seu galho, ô cara. Você não agüenta com esse garoto aporrinhado. Ele ia te quebrar os cornos.
O comentário me faz bem, considero-o justíssimo, restitui-me à minha condição de garoto curtido nos ponta-pés da sorte. Quase convertido à bondade de Realengo, o comentário anônimo me faz voltar ao natural. Prefiro-me assim. Esquentado, de partir pra briga se o assunto me aporrinha: garoto aporrinhado. Gosto da imagem que transmito. Me inauguro como um garoto aporrinhado. Me sinto potente por sob o zuarte, disposto a sustentar a figura. O fiscalzinho raquítico não agüentaria um bom tranco, isto já era público. Que ele agradecesse, se fosse homem de juízo, ao devoto Realengo por lhe ter salvo a integridade da cara e os poucos dentes da boca. Fui outro ao botequim, Beberia uma boa barriguda. Cerveja de macho, achampanhada, um caldo espesso cheio de borras de cevada. Cerveja Luzitana, da garrafa barriguda. Comprei-a, geladinha. Pedi uma bisnaga, a maior do cesto, que veio torradinha, cheirando a pão das madrugadas. Trezentos gramas gramas de mortadela completariam o bom almoço.
- Vai tirar hora de almoço antes de acabar a empreitada? – o feitor perguntou, e já senti nele uma inauguração de humildade.
Vou – eu disse botando toda firmeza na fala, como se proferisse todo um discurso libertário.
- Então tá.
Voltei à calçada carregando a refeição. Vitorioso. Escolhi a sombra do oitizeiro onde estavam os burros, descalcei as reiúnas, dependurando-as como um gancho no fiador. Sentei-me no meio-fio, muito em casa. Com os dentes, arranquei a chapinha e me servi da barriguda bebendo pelo gargalo. Forrei a barriga sem pressa, não tinha pressa, não via razão para comer tão rápido uma refeição de rei em sombra de oitizeiro.
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